TURISMO NA AMAZÔNIA E PICO DA NEBLINA (YARIPO)
A Amazônia é algo fenomenal, em todos os aspectos, onde tudo tem dimensões gigantescas. As distâncias não se medem em quilometragem, mas em tempo: horas, dias, semanas, para se ir de um ponto a outro.
Estar na Amazônia é mergulhar no âmago da ancestralidade, é buscar evidências da existencialidade humana, entender uma parte da nossa história, enxergar um pouco do nosso futuro. A Amazônia tem o nosso passado, está em nosso presente, e nos reserva o futuro.
Para mostrar isso sem que ficasse apenas no apelo comercial, buscamos o diferencial na forma de apresentar a viagem como sendo mais do que uma simples aventura, mas uma experiência que trouxesse transformação de vida aos participantes. E para isso era necessário ter uma logística e equipe que trouxesse algo mais do que todos esperavam: bons equipamentos, cuidados com a alimentação oferecida, segurança, comunicação, guias experientes e que oferecessem tratamento humanizado aos clientes.
Para entender a profundidade de tudo, é importante compreender qual a diferença entre Amazônia e Amazônida?
A Amazônia é a extensa área de floresta tropical que engloba 09 países: Brasil, Venezuela, Colômbia, Peru, Bolívia, Equador, Suriname, Guiana e Guiana Francesa. No Brasil, envolve 09 estados: Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e parte dos estados de Mato Grosso, Tocantins e Maranhão. Tudo o que está dentro desta enorme área verde faz parte da Amazônia.
O Amazônida é o cidadão nativo que vive imerso nesse imenso “Planeta Verde”, rodeado de florestas e rios. Ser Amazônida é viver na Amazônia.
Quem já esteve na Amazônia não é um Amazônida, pois é preciso muito mais para compreender o modo de vida, seus costumes, sua medida de tempo, sua forma de ver a vida e a realidade das pessoas que vivem em harmonia com esse bioma tão importante do nosso planeta. A convivência com o povo Amazônida mostra, certamente, que a vida pode ser vivida com simplicidade, num outro ritmo, sob uma ótica totalmente diferente do que os grandes centros nos impõem. Seja pelos rios, pela floresta, seus sons, seus cheiros, seus sabores, seu povo alegre, conversador, animado e de uma simplicidade de vida cativante, leva a repensar a visão de vida, os conceitos e os valores.
Ao longo do tempo aprendemos que o bem mais precioso está na transformação de vida que cada visitante experimenta.
Descobrimos que cada passo dado nas experiências de viagens são oportunidades únicas de transformação do modo de pensar e encarar a vida. Descobrimos que são, na verdade, grandes viagens de transformação.
A Amazônia abriga a maior quantidade, a maior densidade, e todas as forma de identificação quando se fala em culturas indígenas: muitas, mas muitas comunidades, inúmeras etnias, boa parte com envolvimento com a sociedade urbana, algumas mais isoladas, outras totalmente sem contato. Assim é o mosaico amazônico.
A convivência com tantas diversidades dos povos da Amazônia, sobretudo os indígenas, requer respeito, empatia, compreensão das diferenças, e compreensão da visão de mundo que eles têm.
A Roraima Adventures é pioneira na operação deste destino, desde 2007, num tempo em que ainda não havia regulamentação, mas sempre operando com as devidas autorizações dos órgãos competentes e em aliança com os Yanomami, de maneira organizada, profissional, contribuindo para que toda a cadeia envolvida fosse atendida. E assim se tornou referência.
Recentemente, após a conclusão do Plano de Visitação, recebeu o convite para participar do Edital de Credenciamento, ao qual foi habilitada e reconhecida pelos Yanomami, Funai e ICMBio, e se tornou uma das 03 credenciadas a operar.
Entre as operadoras credenciadas, nasceu uma parceria entre Roraima Adventures e Amazon Emotions, com forte identidade no perfil destas empresas no que diz respeito à visão de como o turismo deve ser desenvolvido na região, com extremo profissionalismo, ética, transparência, sustentabilidade, segurança, com foco inclusivo das comunidades indígenas, gerando o sentimento de pertencimento e dignidade para os povos da floresta.
Em março deste ano de 2022, esta parceria organizou a 1ª expedição para a reabertura do Parque Nacional do Pico da Neblina, envolvendo o protagonismo Yanomami e assim realizando o sonho deste povo em ver as atividades de turismo como uma alternativa de renda, substituindo o garimpo por uma fonte limpa e legal de subsistência.
A expedição teve 09 turistas, 02 guias representantes das operadoras, além dos 02 Diretores (Joaquim Magno e Vanessa Marino) que participarem integralmente de todo o cronograma até o último dia, coordenando juntamente com a AYRCA (Associação Yanomami do Rio Cauaburis e Afluentes), com uma equipe de 21 apoiadores indígenas, incluso entre eles 01 guia Yanomami.
A expedição iniciou no dia 20/março saindo de São Gabriel da Cachoeira pela BR 307, seguido de 07 horas de navegação até Maturacá, onde foram recebidos pelos anfitriões, cuja liderança dos Caciques e Tuxauas deram suas bênçãos sobre os visitantes.
Durante 09 dias dentro da mata, com subidas e descidas, sob muita umidade, chuvas, calor e frio, por trilhas longas e extenuantes, chegaram à base do Yaripo (nome original do Pico da Neblina), onde fizeram o acesso ao cume com sucesso, se deslumbrando com o cenário do ponto mais alto do Brasil.
A viagem foi coroada com sucesso absoluto, com a volta do grupo no dia 31/março no voo até Manaus.
Em uma região em que povos lutam pela sobrevivência, onde tudo tem dimensões gigantes, onde a infraestrutura ainda caminha com grandes necessidades, fazer turismo na Amazônia é muito mais do que estar em meio à natureza, é muito mais do que fotografar ou conhecer pessoas, é muito mais do que passar alguns momentos longe das grandes multidões.
Diante desse cenário único e maravilhoso, há que se ter um comprometimento com as atividades de turismo, valorizando verdadeiramente os povos que ali habitam, inserindo-os de forma real em todo o processo, como protagonistas, gerando atividades que sejam genuinamente sustentáveis, e que tragam um legado rico, duradouro e permanente para as pessoas e comunidades envolvidas.
Com isso, o povo local ganhará cada vez mais dignidade, autonomia, autoestima e perceberá que o turismo bem realizado, de forma profissional, planejado, compartilhado, será uma importante fonte de benefícios e ganhos comunitários, sem necessidade de alterações bruscas que prejudiquem um ambiente tão rico em belezas culturais e naturais.
É assim que estas duas operadoras enxergam qualquer atividade na Amazônia.
Com esta visão do turismo de experiência, o visitante terá um olhar especial sobre o lugar, e o desejo de contribuir para a conservação virá junto na bagagem. Assim, o respeito e o cuidado se antecedem à sua chegada, e então a simbiose harmônica do visitante com os anfitriões estará selada, e todos colherão os melhores frutos ao fim da viagem.
Não se deve pensar em visitar a Amazônia se o propósito maior não for cuidar de tudo o que ela tem ou tudo o que ela é.
A Amazônia é nossa. E somos nós que temos que cuidá-la, preservá-la e defendê-la. E o turismo sustentável, responsável e realizado por operadores sérios e comprometidos podem contribuir muito.
Joaquim Magno de Souza
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